quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

A luta pela autonomia tecnológica: a questão do software livre
















     Por Felipe Duque
Mestrando de Engenharia da computação



Já são de conhecimento da comunidade acadêmica as preocupações a respeito da invasão do capital privado na UFPE: o aprendizado sofre mais influências mercadológicas,
as relações de trabalho são mais precarizadas, o controle social é bastante prejudicado, dentre outras. Essas preocupações são mais paupáveis quando substanciadas no mundo real, como a EBSERH na gestão do Hospital das Clínicas e empresas multinacionais no Centro de Informática. Entretanto, parece-nos inócua a invasão do capital privado por meio da tecnologia. Não nos atentamos ao grave problema de a UFPE utilizar sistemas operacionais e suítes de escritório corporativos (Windows, Mac OS, Microsoft Office), ou softwares diversos associados a grandes empresas multinacionais (Matlab, Photoshop, CorelDraw). Esses softwares são chamados softwares proprietários.




Mas, na prática, quais são as consequências da utilização de softwares proprietários?


Primeiramente, o custo muitas vezes é exorbitante. Por exemplo, o Microsoft Windows 8.1, na sua versão mais básica, custa algo em torno de R$ 360 [1], enquanto o Matlab, utilizado por praticamente todos os cursos de exatas, custa cerca de R$ 1.800 na sua versão acadêmica [2]. Para se ter uma ideia, a Assembleia Legislativa de Pernambuco gastou quase R$ 500.000 em 2013 com licenças das máquinas Windows [3].


Outra consequência é a privação de liberdade imposta pelos softwares proprietários. Praticamente todos os softwares proprietários proíbem sua livre distribuição. Ou seja, as licenças são somente individuais (ou, no máximo, permitem a utilização num número muito reduzido de máquinas).


Também é igualmente grave a absoluta impossibilidade de analisar e modificar o software. Softwares proprietários são fechados, ou seja, o usuário final não pode sequer estudar o código-fonte, tampouco modificá-lo para, possivelmente, personalizá-lo à sua vontade. O resultado é que, mesmo comprando o software, a empresa continua detendo todos os direitos sobre ele.


O que é o software livre?


Em poucas palavras, o software livre (denominação criada pela Free Software Foundation [4]) é aquele que preserva as liberdades ao usuário final. Ele se alicerça em quatro liberdades básicas: liberdade de estudar o código, modificá-lo, distribuir o software original e distribuir o software modificado. Note que não há nenhuma menção ao preço: a licença do software livre (sendo GPL - Gnu General Public License - a mais conhecida) é muito mais ampla do que a questão do preço. Ela permite inclusive que seja cobrada uma taxa de venda ou distribuição, apesar de que a maioria absoluta dos softwares livres é inteiramente gratuita. A única liberdade que essa licença proíbe é a de retirar liberdades do usuário, ou seja, a partir do momento em que um determinado software é 'libertado', ele nunca mais poderá ser fechado novamente.




As liberdades preconizadas pelo software livre promovem, por fim, uma comunidade virtual engajada, colaborativa e plural. O exemplo mais bem sucedido é o Linux, que é a base de muitos sistemas operacionais livres. São milhares de colaboradores em todo o mundo trabalhando coletivamente sem ingerência de governos ou empresas, configurando uma verdadeira autogestão de escala mundial. Essa filosofia se espalha para outros projetos mais localizados, como o Libre Office (substituto livre ao Microsoft Office), GIMP ou Inkscape (substitutos ao Adobe Photoshop e Corel Draw), dentre milhares de outros softwares.


Software livre na UFPE


Em 2003, no início do governo Lula, foi implementado o Comitê de Implementação de Software Livre (CISL), que, desde então, vem fazendo diversas atividades com o objetivo de difundir o software livre no serviço público. Num levantamento realizado pelo Comitê para avaliar a utilização de software livre nos órgãos públicos, a UFPE sequer está relacionada, indicando uma total falta de interesse no tema. Esperamos, então, que esse texto possa ser o início da discussão sobre a 'autonomia tecnológica' que poderá inserir a UFPE no mundo do software livre, onde a coletividade e o interesse público se colocam acima de qualquer outro fator - o que deve estar no cerne de qualquer instituição pública.


Fontes:




[3] - Requisição do autor à ALEPE, com base na Lei de Acesso à Informação.



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Felipe Duque participou voluntariamente do Debate sobre nosso programa, realizado na BC em 23/02, e desde então demonstrou interesse em construir coletivamente a nossa campanha.  

Junte-se você também a nós! 

Um comentário:

  1. MATÈRIA ALTAMENTE RELEVANTE. Esta deve ser mais uma bandeira da Universidade Pública em Movimento .Parabens .Chega de exploração no campo da tecnologia.Se há o software gratis por que pagar ?

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