Por Felipe Duque
Mestrando de Engenharia da computação
Já são de conhecimento
da comunidade acadêmica as preocupações a respeito da invasão do capital
privado na UFPE: o aprendizado sofre mais influências mercadológicas,
as relações de
trabalho são mais precarizadas, o controle social é bastante prejudicado,
dentre outras. Essas preocupações são mais paupáveis quando substanciadas no mundo real, como a
EBSERH na gestão do Hospital das Clínicas e empresas multinacionais no Centro
de Informática. Entretanto, parece-nos inócua a invasão do capital privado por meio da
tecnologia. Não nos atentamos ao grave problema de a UFPE utilizar sistemas
operacionais e suítes de escritório corporativos (Windows, Mac OS, Microsoft
Office), ou softwares diversos associados a grandes empresas multinacionais
(Matlab, Photoshop, CorelDraw). Esses softwares são chamados softwares
proprietários.
Mas, na prática, quais
são as consequências da utilização de softwares proprietários?
Primeiramente, o custo
muitas vezes é exorbitante. Por exemplo, o Microsoft Windows 8.1, na sua versão
mais básica, custa algo em torno de R$ 360 [1], enquanto o Matlab, utilizado
por praticamente todos os cursos de exatas, custa cerca de R$ 1.800 na sua
versão acadêmica [2]. Para se ter uma ideia, a Assembleia Legislativa de
Pernambuco gastou quase R$ 500.000 em 2013 com licenças das máquinas Windows
[3].
Outra consequência é a
privação de liberdade imposta pelos softwares proprietários. Praticamente todos
os softwares proprietários proíbem sua livre distribuição. Ou seja, as licenças
são somente individuais (ou, no máximo, permitem a utilização num número muito
reduzido de máquinas).
Também é igualmente
grave a absoluta impossibilidade de analisar e modificar o software. Softwares
proprietários são fechados, ou seja, o usuário final não pode sequer estudar o
código-fonte, tampouco modificá-lo para, possivelmente, personalizá-lo à sua
vontade. O resultado é que, mesmo comprando o software, a empresa continua
detendo todos os direitos sobre ele.
O que é o software
livre?
Em poucas palavras, o
software livre (denominação criada pela Free Software Foundation [4]) é aquele
que preserva as liberdades ao usuário final. Ele se alicerça em quatro
liberdades básicas: liberdade de estudar o código, modificá-lo, distribuir o
software original e distribuir o software modificado. Note que não há nenhuma
menção ao preço: a licença do software livre (sendo GPL - Gnu General Public
License - a mais conhecida) é muito mais ampla do que a questão do preço. Ela
permite inclusive que seja cobrada uma taxa de venda ou distribuição, apesar de
que a maioria absoluta dos softwares livres é inteiramente gratuita. A única
liberdade que essa licença proíbe é a de retirar liberdades do usuário, ou
seja, a partir do momento em que um determinado software é 'libertado', ele
nunca mais poderá ser fechado novamente.
As liberdades preconizadas pelo software livre promovem, por fim, uma comunidade virtual engajada, colaborativa e plural. O exemplo mais bem sucedido é o Linux, que é a base de muitos sistemas operacionais livres. São milhares de colaboradores em todo o mundo trabalhando coletivamente sem ingerência de governos ou empresas, configurando uma verdadeira autogestão de escala mundial. Essa filosofia se espalha para outros projetos mais localizados, como o Libre Office (substituto livre ao Microsoft Office), GIMP ou Inkscape (substitutos ao Adobe Photoshop e Corel Draw), dentre milhares de outros softwares.
Software livre na UFPE
Em 2003, no início do
governo Lula, foi implementado o Comitê de Implementação de Software Livre
(CISL), que, desde então, vem fazendo diversas atividades com o objetivo de
difundir o software livre no serviço público. Num levantamento realizado pelo
Comitê para avaliar a utilização de software livre nos órgãos públicos, a UFPE
sequer está relacionada, indicando uma total falta de interesse no tema.
Esperamos, então, que esse texto possa ser o início da discussão sobre a
'autonomia tecnológica' que poderá inserir a UFPE no mundo do software livre,
onde a coletividade e o interesse público se colocam acima de qualquer outro
fator - o que deve estar no cerne de qualquer instituição pública.
Fontes:
[3] - Requisição do
autor à ALEPE, com base na Lei de Acesso à Informação.
[4] - http://www.fsf.org/
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Felipe Duque participou voluntariamente do Debate sobre nosso programa, realizado na BC em 23/02, e desde então demonstrou interesse em construir coletivamente a nossa campanha.
Junte-se você também a nós!
MATÈRIA ALTAMENTE RELEVANTE. Esta deve ser mais uma bandeira da Universidade Pública em Movimento .Parabens .Chega de exploração no campo da tecnologia.Se há o software gratis por que pagar ?
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